Após a parada para registro, tomamos café na casa de amigos que residem na estrada...
Saiba mais sobre Esperança Garcia :
Um pouco da história
dessa mulher guerreira "Esperança Garcia"
Esperança Garcia viveu na região de
Oeiras na fazenda de Algodões, a mais ou menos 300 km de Teresina, essa
fazenda juntamente a outras dezenas de estâncias pertenciam à inspeção de
Nazaré, onde é hoje o município de Nazaré do Piauí. Apesar de sua importância
histórica, não se sabe quase nada sobre sua vida, esse descaso da sociedade é
conseqüência principalmente de sua condição de negra escravizada. Porém ela se
destaca por ter sido corajosa a ponto de escrever uma carta ao governador do
Piauí, Gonçalo Lourenço Botelho de Castro, denunciando os maus tratos sofridos
por ela, seus filhos e companheiras. A carta é datada de 06 de setembro de
1770.
Afirma-se que a carta original
está em Portugal, e uma cópia foi descoberta no arquivo público do Piauí pelo
pesquisador e historiador Luiz Mott em 1979:“Outra minha importante descoberta
arquivística foi um pequeno documento, uma única página escrita a mão, todo
cheia de garranchos com muitos erros de português: trata-se de uma petição
escrita em 1770, por uma escrava do Piauí, Esperança Garcia. Trata-se do
documento mais antigo de reivindicação de uma escrava a uma autoridade.
Documento insólito! Primeiro por vir assinado por uma mulher, já que mulher escrever
antigamente era uma raridade. As mulheres eram vítimas da estratégia de seus
pais, mantê-las distante das letras, a fim de evitar que elas escrevessem
bilhetinhos para os seus namorados. Segundo, por se tratar de uma petição
escrita por uma mulher negra.”(Mott).
Esse documento serviu de inspiração
para diversas manifestações contemporâneas como o grupo de mulheres que
trabalham pela cidadania da mulher negra piauiense, e recebe o nome de
Esperança Garcia assim como a maternidade de Nazaré do Piauí e a data desta
carta é o dia estadual da consciência negra no Piauí desde 1999.
Segue abaixo o modelo original da
carta e sua versão atualizada:
CARTA:
"Eu sou hua escrava de V. Sa.
administração de Capam. Antº Vieira de Couto, cazada. Desde que o Capam. lá foi
adeministrar, q. me tirou da fazenda dos algodois, aonde vevia com meu marido,
para ser cozinheira de sua caza, onde nella passo mto mal. A primeira hé q. ha
grandes trovoadas de pancadas em hum filho nem sendo uhã criança q. lhe fez
estrair sangue pella boca, em mim não poço esplicar q. sou hu colcham de
pancadas, tanto q. cahy huã vez do sobrado abaccho peiada, por mezericordia de
Ds. esCapei. A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confeçar a tres
annos. E huã criança minha e duas mais por batizar. Pello q. Peço a V.S. pello
amor de Ds. e do seu Valimto. ponha aos olhos em mim ordinando digo mandar a
Procurador que mande p. a fazda. aonde elle me tirou pa eu viver com meu marido
e batizar minha filha q.
De V.Sa. sua escrava Esperança Garcia”
CARTA TRADUZIDA:
"Eu sou uma escrava de V.S.a
administração de Capitão Antonio Vieira de Couto, casada. Desde que o Capitão
lá foi administrar, que me tirou da Fazenda dos Algodões , aonde vivia com meu
marido, para ser cozinheira de sua casa, onde nela passo tão mal. A primeira é
que há grandes trovoadas de pancadas em um filho nem, sendo uma criança que lhe
fez extrair sangue pela boca; em mim não poço explicar que sou um colchão de
pancadas, tanto que caí uma vez do sobrado abaixo, peada, por misericórdia de
Deus escapei. A segunda estou eu e mais minhas parceiras por confessar a três
anos. E uma criança minha e duas mais por batizar. Pelo que peço a V.S. pelo
amor de Deus e do seu valimento, ponha aos olhos em mim, ordenando ao
Procurador que mande para a fazenda aonde ele me tirou para eu viver com meu
marido e batizar minha filha.
De V.Sa. sua escrava, Esperança
Garcia"
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