terça-feira, 27 de setembro de 2011

A primeira impressão é a que fica

A expressão é surrada, mas é a que melhor traduz não só a importância da imagem de um político, como o zelo com que ele deve tratá-la

A disputa eleitoral se dá entre imagens e quem vota escolhe aquela que, no seu julgamento, for mais convincente e transmitir a maior credibilidade. Por isso, os políticos lutam até o último fôlego para defender e promover suas imagens. Sabem que, se ela for abalada, as chances de recuperação tornam-se muito remotas. Sendo um jogo de imagens, a política tem características que a aproximam do teatro - e outras que se assemelham às dos jogos. Assim, fazem parte dessa dinâmica esconder a verdadeira intenção, evitar compromissos definitivos, administrar a presença e a ausência, dissimular, ocultar fragilidades e expor pontos fortes, cuidar o que fala, entre muitas outras atitudes.

Em nome do cuidado com a imagem pessoal, os políticos cultivam a simpatiam e cumprimentam a todos, mesmo não conhecendo as pessoas que encontram

Um líder nunca será demasiado prudente com a primeira impressão que sua imagem vai deixar. Afinal, nunca haverá uma segunda chance para produzir um "novo" impacto inicial. Para a maioria das pessoas, ele é único e definitivo - e funciona como as lentes coloridas de um par de óculos: você passa a ver a realidade através delas, com todos seus tons. Se a primeira impressão for favorável, o público tende a ter boa vontade, tolerância e compreensão para com as aparições posteriores. Se acontecer o contrário, a imagem sofrerá um efeito exponencial negativo sobre erros e falhas que vierem a ser cometidos, legitimando e confirmando aquela primeira impressão hostil. Não é impossível revertê-la, mas é tarefa que demanda muito trabalho, tempo e nem sempre logra sucesso.

Há muitos projetos de governo que, por falhas de apresentação, adquirem logo uma "má fama" que, mesmo não correspondendo à realidade, "gruda" de tal maneira que persistem por anos e até décadas depois da proposta haver sido implementada. A mesma regra vale para a imagem pessoal. Se a primeira impressão for ruim, é certo que ela tende a perdurar, tornando-se "verdade". Isto ocorre porque um impacto inicial desfavorável sempre será mais marcante que um positivo. A percepção se difunde pela repetição e pela comunicação pessoal. Em breve, alguém agregará um apelido à imagem, emprestando-lhe fixidez, facilidade de retenção na memória e velocidade de propagação.

As primeiras impressões possuem tanta força porque são exatamente isso: as primeiras. Elas preenchem um espaço vazio na mente - antes delas, nada havia. Quando surgem, são retidas naquela lacuna de memória tal qual foram apreendidas. A partir daí, pertencem ao patrimônio perceptivo da pessoa, e não mais ao político que as produziu. Por isso, é tão difícil mudá-las. É preciso disposição para "apagar" as sensações gravadas, substituindo-as por outras. Como elas integram o imaginário de cada indivíduo, tudo vai depender de uma certa flexibilidade mental para aceitar transformações, vencendo a resistência natural frente a tentativas desta natureza.

O político está sempre despertando primeiras impressões nos eleitores potenciais

Por isso, os políticos investem pesadamente no cultivo da simpatia, que, ao longo do tempo, perde a espontaneidade para parecer um estratagema de sedução. Por isso, os políticos cumprimentam a todos, mesmo não conhecendo as pessoas que encontram. Por isso, os políticos hesitam tanto em assumir posições onerosas e desgastantes, preferindo e abraçando com fervor aquelas que são atraentes e populares. Por isso, os profissionais de marketing "produzem", nos mínimos detalhes, as imagens dos políticos, aparando arestas, corrigindo erros e alterando comportamentos. Por isso, os políticos cuidam muito de sua aparência pessoal e dos trajes que vestem.

Essas e outras medidas não podem ser tratadas, simplificadamente, como gestos demagógicos - embora muitos sejam. O que todos buscam é causar uma primeira impressão favorável, reforçando-a pela reiteração do contato. Depois de tanto praticar, tais atitudes se tornam hábitos consolidados e até mesmo cacoetes. Prova disso é a maneira jocosa de caracterizar uma pessoa que, socialmente, tem o hábito de agradar os outros e de mostrar simpatia, com a frase: "É um político". Na realidade, esses hábitos pretendem garantir impactos positivos diante das pessoas. Afinal, a todo o momento um político está despertando primeiras impressões em algum eleitor potencial.

Fonte: Francisco Ferraz

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