A primeira regra é ter habilidade para separar as relações pessoais e afetivas das relações profissionais e políticas. A segunda é aprender a ser seletivo na hora de escolher quem estará ao seu lado. E finalmente, saber colocar os amigos certos nos lugares certos
Poucas palavras possuem um uso mais universal e inconsequente do que amigo. Empregamos o termo para designar as mais variadas relações pessoais. Chamamos de amigo aquele que já nos forneceu prova de sacrifício pessoal por estima, como nomeamos da mesma forma quem acabamos de conhecer numa festa.
É certo que, interiormente, sabemos que alguns são verdadeiros amigos - com os quais podemos contar nas mais difíceis situações - e outros são apenas conhecidos - com quem apenas descobrimos possuir algumas afinidades.
Excluídos os casos-limite - os dos verdadeiros amigos versus os conhecidos recentes e eventuais - forma-se um espaço intermediário no qual nosso julgamento vai ficando crescentemente obscurecida. Como avaliar quem é mais amigo quando se compara uma relação atual, porém muito intensa e com elevado grau de afinidade, com outra antiga e confiável, mas com muito menos identidade e já um tanto vincada pelo tempo?
Chamamos de amigos tanto aqueles que já nos provaram sua estima, como quem acabamos de conhecer numa festa
A questão da amizade está bem presente no nosso cotidiano, produzindo ora surpresas agradáveis e gratificantes, ora desilusões e decepções. Esse círculo social, entretanto, é sempre restrito ao plano individual. Diferente é a situação de um político, sobretudo daquele investido de poder: as conseqüências de um equívoco grave na definição de quem é amigo - e do quanto é - são enormes.
Não apenas atingem um diâmetro social muito mais amplo, como podem acarretar efeitos danosos para a imagem e a carreira do político. Um líder não pode entregar ao acaso a decisão sobre suas amizades. Jamais esqueça: você é julgado pelos amigos que mantém e com os quais convive. Quanto mais elevado for o cargo que você ocupa, mais seletivo deverá ser na escolha das pessoas que considera amigas.
O político é julgado pelos amigos que mantém e com os quais convive
O poder é um afrodisíaco, como se costuma dizer, um imã que magnetiza quem está em torno daquele que o detém. Ele atrai tudo que há de melhor nas pessoas, assim como o que há de pior nelas. E quem tem o poder terá de lidar com ambas. Por isso, quando for entregar sua amizade, faça com que sua decisão seja guiada pela escolha e não pelo acaso.
Amigos devem ser examinados com objetividade e realismo, testados nos infortúnios e certificados não apenas pela afetividade, mas também pela lucidez, discrição e sobriedade. Amigos sábios e prudentes afastam os problemas. Amigos inconseqüentes e irresponsáveis os atraem. A lucidez de um amigo e sua solidariedade irrestrita em momentos de dificuldade são qualidades que só podem ser devidamente avaliadas por quem já necessitou desse apoio e o encontrou.
Não basta, entretanto, selecionar bem seus amigos. É igualmente importante saber como lidar com eles. Alguns convém ter por perto, em contato continuado. Outros, porém, é melhor que estejam afastados, recorrendo-se a eles nos momentos devidos. Não esqueça que a distância contribui para amenizar defeitos que seriam dificilmente suportáveis no convívio diário.
O fato de estarem afastados não significa menos amizade e sim menos afinidade. Distantes esses amigos serão mantidos e serão úteis. Próximos, possivelmente tornariam muito difícil manter a amizade. Lembre-se de que saber como conservar uma amizade é muito mais importante do que fazer uma amizade. Prefira, portanto, aquelas que duram.
No trabalho, os amigos sábios e prudentes afastam problemas e trazem soluções
Já a questão de trabalhar com um amigo, nomeá-lo para uma função subordinada a você, é muito mais complexa. Não basta ser amigo para garantir uma boa relação de trabalho. Muito ao contrário.
O amigo que vier a ocupar essa função precisa entender e aceitar que sua amizade com o chefe vai trazer-lhe mais problemas que vantagens. Para começar, o "ônus da prova" da sua competência será mais rigoroso que nos demais casos; na hora do sacrifício, caberá a ele dar o exemplo; jamais poderá usar sua relação de amizade como um facilitador do seu trabalho; deverá trabalhar mais que os outros; sua honestidade e correção precisam ser exemplares - para citar apenas algumas exigências que deverá atender.
Se a vida sem amigos é um deserto, a de um político com amigos que criam problemas é um inferno
A vida sem amigos é um deserto. A vida do político com amigos que lhe criem problemas é um inferno. Como regra geral, é preferível separar a esfera das relações pessoais afetivas das relações profissionais e políticas.
Nem sempre é possível, nem sempre é desejável. Nestes casos, assegure-se de que escolheu os amigos certos nas funções certas para trabalhar com você: aqueles que estão conscientes dos problemas que vão enfrentar e das atitudes que devem ter. Mesmo adotando toda a cautela recomendada, nunca baixe sua guarda.
Esteja sempre atento aos menores sinais de problemas emocionais como inveja, frustração e ingratidão. Nada na política tem o selo da perenidade - e o mais próximo dos amigos pode vir a tornar-se o pior dos inimigos.
Fonte: Francisco Ferraz - Política para políticos
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