Vitórias obtidas com argumentos são de curta duração. Novos fatos e novos argumentos podem derrubá-las
Há inúmeros "verbetes" na enciclopédia de ditos políticos que alertam para a fragilidade da palavra, sua volubilidade, quando se compara com a reserva e o silêncio. A palavra, desacompanhada do comportamento, expressa, na melhor das hipóteses, uma intenção. Ora, as pessoas sabem, até por experiência própria, quantas vezes a melhor das intenções é abandonada sem ser realizada.
Na enciclopédia de ditos políticos há vários "verbetes" que alertam para a fragilidade da palavra
Por estas razões, quem ouve um argumento, sobretudo um argumento político - que sempre traduz algum interesse - fica normalmente na defensiva. Até o melhor e mais "abotoado" argumento não possui solidez suficiente para vencer resistências.
Estamos demasiadamente habituados com a natureza escorregadia das palavras, que podem ser reinterpretadas, negadas, reconsideradas fora do contexto em que foram pronunciadas, de acordo com o interesse do argumentador. O polemista não entende isto. Não compreende que as palavras nunca são neutras (sobretudo na política). O discurso do polemista fala para ouvidos céticos. Ao perceber que não convence, ele recorre a mais argumentação, agravando ainda mais a sua dificuldade de convencer e vencer.
Este problema ainda torna-se mais grave quando a argumentação ocorre com um superior. Não apenas a insistência incomoda e irrita, como a tentativa de fazer vencer sua idéia pela argumentação questiona a inteligência do superior. Um erro fatal. A solução seria então não argumentar? Abrir mão de suas convicções? Demitir-se da prerrogativa de debater e argüir? Não. O que esta lei do poder sustenta é que as ações convencem muito mais que as palavras.
A grande vantagem em demonstrar suas idéias com ações e evidências está no fato de que seus oponentes ficam restritos aos argumentos e às palavras, enquanto você alinha a favor dos seus, ações, fatos e evidências. Uma ação, um comportamento, uma evidência incontestável, valem muito mais que milhares de palavras desacompanhadas. Sobretudo na política, as pessoas estão permanentemente contrastando e comparando palavras com ações. Por isso, na política, o exemplo é sempre tão poderoso como argumento de persuasão. Vencer uma argumentação pela ação não humilha e ao mesmo tempo prova, além de qualquer duvida, a validade do argumento. Vencer e convencer pela ação complementa-se pelo uso de argumentos. Mas aí reside a diferença. O argumento expande, explicita, enriquece uma realidade que se impôs pela sua própria existência.
Assegure-se de que as batalhas mais importantes sejam sempre vencidas com ações
O político, governante ou legislador, tem muito a se beneficiar seguindo esta lei da política. Segui-la, implica ter mais paciência. A palavra sempre será mais acessível e mais imediata do que as ações. Mas são as ações que estabelecem a reputação de um homem público, não as suas palavras. Por isso, às vezes é melhor conter a impaciência, esperar, e, até quem sabe, perder uma oportunidade para demonstrar seu argumento com ações. Você será convincente, persuasivo e acima de tudo coerente.
Vitórias obtidas com argumentos são de curta duração. Novos fatos e novos argumentos podem derrubá-la. Vitórias obtidas com argumentos, numa discussão acirrada, são falsas vitórias. Despertam ressentimentos e hostilidades que são mais poderosos e muito mais duradouros do que uma circunstancial mudança de opinião. Na sua vida política procure sempre escolher as batalhas que vai lutar.
Não entregue para seu inimigo este poder de escolha. Se a médio e longo prazo, não faz maior importância que a outra pessoa concorde ou não com você, ou se você tem certeza que, com o passar do tempo, as evidências vão provar seu ponto, deixe passar.
Se, por outro lado, a divergência é crucial e o tempo não trabalha a seu favor, parta para a ação, demonstre seu ponto com atos, produza resultados e evidências. Vença pela demonstração prática de sua idéia. Se você busca o poder, ou luta para conservá-lo, assegure-se de que as batalhas mais importantes sejam vencidas com ações, nunca com argumentação. Talvez pareça que são menos vitórias do que poderia conseguir. Mas esteja certo, são vitórias asseguradas, consolidadas e inabaláveis.
Referências Bibliográficas
Machiavel, N. - O Príncipe, Discursos
Greene, R. - The 48 Laws of power
Richelieu - Testamento Político
Cardeal Mazarin - Breviário dos políticos
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