quarta-feira, 29 de maio de 2013

Jaquelina Nascimento faz análise sobre discurso de Rousseau referente à origem e fundamentos da desigualdade entre os homens

Jaquelina Nascimento

Qual a origem da desigualdade entre os homens? Esta pergunta atual, contundente e complexa fascinou Rousseau (1712-1778) em meados do século XVIII. O filósofo produziu o Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens, impressionado com a grandiosidade da questão.

Rousseau sustenta sua argumentação em dois grandes pilares: a instituição da propriedade privada – que seria o fator de grande ruptura na organização social da humanidade, desencadeador de guerras e crimes – e a ambigüidade da própria civilização, fruto do conflito entre o homem e a natureza, ao mesmo tempo perversa e impulsionadora do progresso.

O filósofo divide "O Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens" em duas partes. Na primeira o homem é analisado tanto em seu estado natural como civilizado e, na segunda, é defendida a ideia de que as desigualdades têm sua origem nesse estado de sociedade. Isto é, num primeiro momento, o homem é equiparado aos animais quanto aos seus instintos de sobrevivência e formação de ideias. Sendo assim, as principais diferenças residem no fato de que o homem enfrenta inconveniências pelas quais o restante dos animais ou não são afetados ou com as quais não se preocupam antecipadamente: as enfermidades naturais, infância, velhice e doenças.

Rousseau ainda afirma que a capacidade de raciocinar do homem é mais elevada, e mesmo sendo dotado de sentidos como os animais, estes se diferenciam dos homens pela ausência da qualidade de agente livre. Enquanto um animal faz suas escolhas ou rejeita algum sujeito por instinto, o homem o faz por um ato de liberdade.

Outra novidade nesse progresso mental foi a noção de família, que com o tempo, levou homens e mulheres a deixarem de lado o comportamento selvagem que tinham. Essa moderação no comportamento fez emergir a fragilidade perante a natureza e os animais, mas trouxe como compensação e noção de grupo, que transmitia maior poder de resistência do que o indivíduo isoladamente. O amor conjugal e o fraternal surgem nesse momento, segundo Rousseau.

Entretanto, a facilidade da vida em grupo trouxe outro problema: a ociosidade e a busca por algo que desse sentido a vida, além do trabalho. Assim, o lazer se instituiu, porém, com o passar do tempo, o que era comodidade passou a ser visto como necessidade e novos conflitos surgiram, fazendo com que o homem ficasse mais infeliz pela privação das comodidades, do que feliz de possuí-las.


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