Não tem uma pessoa bem-relacionada dentro do PCdoB que não ouviu falar no Tiago Alves. E quem o conhece bem, ou já teve a chance de trabalhar com o cara em algum projeto de Cultura da UNE ou da sua produtora, a Contra Regras, sabe que a parada ali é frenética. O menino é bom – ou bão – como eles falam lá em Minas, desde à época em que foi diretor de cultura e comunicação da UEE-MG, depois diretor de cultura da UNE e coordenador geral do CUCA e das Bienais.
Quem o vê em ação pela primeira vez, falando alto ou pagando de maluco de um lado pro outro, não sabe que aquele é um dos que já tiveram seu trabalho reconhecido pela Ordem do Mérito Cultural, o maior prêmio do governo brasileiro para os personagens da cultura nacional, e que já foi entregue tipo para o Milton Nascimento e para o Oscar Niemeyer. Também participou do Conselho Nacional de Juventude do governo Lula e, atualmente está na coordenação do coletivo nacional de cultura do PCdoB.
Vamos ouvi-lo falar sobre esse novo momento de organização do partido, sobre o formato da Contra Regras e objetivos, sobre esse laboratório, espaço para testar além do mais óbvio, organizar os comunistas que militam nesse campo, buscar mesmo uma cultura de massa, desmistificando um pouco a pseudo divisão no campo da qualidade.
Tiago Alves Ferreira, 32 anos natural de Uberlândia, MG. Filho de uma casa de classe média, mãe professora universitária e pai economista. Aos 15 anos mudou-se para BH em virtude do trabalho do pai. Entrou na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) no curso de filosofia, aos 18. Mudou-se para São Paulo aos 23, quando entrou na UNE.
Quem é o Tiago, como você chegou às artes? Foi junto com a opção política?
Sei lá, acho que as artes foram uma coisa fortuita na minha vida, eu nunca fui um cara das artes, mas sempre fui antenado e as coisas acabaram se encontrando. Durante a minha passagem pela UNE, a minha força política me levou pra cultura, fui designado pra aquilo e eu, meio na pilha de ser um cara abnegado com aquilo, resolvi estudar, me especializar mesmo e acabei envolvendo toda minha vida nisso. Claro que a Cultura também me ajudou a desenvolver o conhecimento crítico e criativo na questão das políticas públicas, da educação, etc. Eu também participei desse momento de diversificação e mudança do movimento estudantil. A gente chegou a dar nome pra coisa, era “refazendo o movimento estudantil” e queria essa maior aproximação com a cultura, com o esporte, com a ciência, etc.
E a coisa do CUCA? Como surgiu?
O CUCA foi um dos movimentos mais inovadores da UNE contemporânea, reconhecido inclusive com o prêmio da Ordem do Mérito Cultural que eu e a Tininha, que também foi coordenadora do CUCA, tivemos a honra de receber do presidente Lula e do ministro Gil. O CUCA é um resgate fundamental da história do movimento cultural da UNE, se você estudar a importância da cultura para os estudantes na época do CPC (Centro Popular de Cultura) na década de 60, você conclui que não existe UNE se não tiver cultura no meio. Por isso criamos as Bienais, começando em 1999, e pensamos numa forma de multiplicar essas experiências por todo país. Na minha época, o CUCA era muito estudantil, foi quando inclusive iniciamos a relação com o projeto Pontos de Cultura, do governo federal. Penso que hoje demos um passo adiante, o CUCA está procurando estabelecer uma relação entre a universidade e os movimentos da cultura popular. Atualmente existem, acho que 17 Cucas espalhados por todo país, em estados como Mato Grosso, Amazonas, Paraíba, ou seja, esse projeto se transformou, um pouco, em um projeto de remapeamento do Brasil a partir da sua cultura.
Que intercâmbios têm a opção artística e a opção marxista?
Veja bem, intercâmbios existem em muitos momentos e isso é extremamente bacana mas, eu penso que a arte não necessariamente tem que ter um viés marxista. Existem dois elementos que, na minha opinião, são intrínsecos à opção artística e deveriam ser, necessariamente, a opção marxista: a criatividade e a liberdade. É um simplismo marxistas acharem que toda arte tem que ser engajada. Pra pegar um exemplo na arte popular brasileira, a bossa-nova tem uma origem pequeno-burguesa, mas é linda, ou alguém em sã consciência vai falar que Vinicius de Moraes é ruim?
Qual a importância e os caminhos para a cultura num país como o Brasil, fortemente identificado por uma cultura singular, rica, diversa?
Cara, o Brasil é um país que é síntese das sínteses, é um reflexo desse momento que a humanidade vive, de conquistas, avanços civilizatórios. Minha compreensão sobre cultura é a seguinte, já que você perguntou: entendo o Brasil de forma análoga à de um grande vitral, onde existem diversas formas, cores. Se você olhar de perto, verá os detalhes de cada pedaço de vidro, são todos diferentes, cada um com sua cor específica. No entanto, se você olhar de longe, todas aquelas pequenas partes formam uma coisa só. Portanto, entendo que não existe dicotomia entre diversidade e unidade, devemos encarar esses dois elementos de forma dialética.
Cultura e educação – tudo a ver?
Antes de mais nada, é importante entender a educação como um processo cultural. Para além disso, é importante termos medidas concretas que reconciliem as duas esferas. No último período, o Brasil vem tomando iniciativas importantes, que devem ser ampliadas, como o ensino da cultura afro-brasileira e do ensino de música nas escolas. As escolas também devem se transformar em um espaço das diversas juventudes, para produção e fruição cultural. Cada escola deveria ser um Ponto de Cultura, deveria ter um programa Segundo Tempo da Cultura, é preciso ter essa compreensão para nortear ações entre essas duas áreas.
Cultura e comunicação – hoje o cidadão tem possibilidades democráticas de se expressar inimagináveis há pouco tempo atrás. Como isso impacta a arte e a cultura?
Esses dias, conversando com a minha futura esposa, a Luisa, ela me aplicou em um texto do Manuel Castells. Ele fala muito de algo sobre o qual eu venho refletindo há algum tempo. Penso que a revolução tecnológica das comunicações, da informação, do conhecimento ou tudo isso junto, está ajudando imensamente no processo de democratização. Um dos paradigmas centrais do marxismo se refere à detenção dos meios de produção. A transformação nas comunicações promoveu uma certa revolução nisso, deu ao cidadão, novamente, a possibilidade da narrativa. Os meios estão abertos e a liberdade de criação está a cada dia mais pulsante. Nesse texto, o Castells fala que usuários e criadores de conteúdo podem se tornar a mesma coisa, tamanha é a amplificação das possibilidades de interação trazidas pelas tecnologias. Desse jeito, o cara pode se narrar a si mesmo, não precisa ser refém das grandes mídias. Ele mesmo vai produzir o seu próprio vídeo no youtube, escrever um blog, enfim, alcançar a sua autonomia.
Banda larga seria a maior realização estrutural na cultura de um futuro governo Dilma?
Uma das. Atualmente, estou fazendo a campanha de um parceiro de longa data para deputado federal, o Gustavo Petta, e contribuí para a elaboração do seu programa de cultura. Penso que Dilma deveria assumir quatro compromissos na área da cultura. O primeiro seria a reconciliação entre cultura e educação. O segundo é fazer com que o programa mais inovador do Ministério da Cultura se torne lei, o programa dos Pontos de Cultura. Em terceiro lugar, deveremos dar uma atenção especial às linguagens de teatro de grupo, música independente, intervenção ambiental todos deveriam ter mais recursos e políticas para a sua produção e circulação. Por fim, é pensar a parada da comunicação, com um plano nacional de banda larga, o incentivo às mídias alternativas e a valorização de um sistema público de comunicação.
Tiago, onde você imagina estarmos os brasileiros daqui a dez anos, e você pessoalmente?
Sinceramente, sou otimista. Acredito que estamos num momento de início da construção do socialismo brasileiro, entendendo o socialismo de uma maneira mais larga. Estamos no momento da conquista de avanço sociais, do crescimento econômico e da possibilidade de um desenvolvimento sustentável, um salto civilizacional. Penso que, daqui a dez anos teremos uma sólida estrutura funcionando em todas as áreas, na cultura, na educação, no esporte, na saúde. Para além disso, acho que viveremos um momento de construção de um novo homem, mais humano, preocupado com as questões ambientais, mais livre e tolerante. Quanto a mim, irei me casar no próximo ano. Na boa, sou meio careta, quero casar, ter filhos, espero que minha produtora esteja em um momento bacana, e que meu amigos, aqueles que já fiz e os que ainda farei, estejam todos próximos.
Rapaz, excelente o papo. Pessoal, o cara não é fraco não. O email dele é tiagoalves@contraregras.com.br se quiserem continuar a conversa. Obrigado Tiago, aprendi nesta entrevista. Sorte a você, Luíza, Gustavo Petta seu candidato a federal, e a nós todos. Abração.
Fonte: http://www.waltersorrentino.com.br/2010/07/21/o-brasil-e-a-sintese-das-sinteses/#more-2832
Quem o vê em ação pela primeira vez, falando alto ou pagando de maluco de um lado pro outro, não sabe que aquele é um dos que já tiveram seu trabalho reconhecido pela Ordem do Mérito Cultural, o maior prêmio do governo brasileiro para os personagens da cultura nacional, e que já foi entregue tipo para o Milton Nascimento e para o Oscar Niemeyer. Também participou do Conselho Nacional de Juventude do governo Lula e, atualmente está na coordenação do coletivo nacional de cultura do PCdoB.
Vamos ouvi-lo falar sobre esse novo momento de organização do partido, sobre o formato da Contra Regras e objetivos, sobre esse laboratório, espaço para testar além do mais óbvio, organizar os comunistas que militam nesse campo, buscar mesmo uma cultura de massa, desmistificando um pouco a pseudo divisão no campo da qualidade.
Tiago Alves Ferreira, 32 anos natural de Uberlândia, MG. Filho de uma casa de classe média, mãe professora universitária e pai economista. Aos 15 anos mudou-se para BH em virtude do trabalho do pai. Entrou na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) no curso de filosofia, aos 18. Mudou-se para São Paulo aos 23, quando entrou na UNE.
Quem é o Tiago, como você chegou às artes? Foi junto com a opção política?
Sei lá, acho que as artes foram uma coisa fortuita na minha vida, eu nunca fui um cara das artes, mas sempre fui antenado e as coisas acabaram se encontrando. Durante a minha passagem pela UNE, a minha força política me levou pra cultura, fui designado pra aquilo e eu, meio na pilha de ser um cara abnegado com aquilo, resolvi estudar, me especializar mesmo e acabei envolvendo toda minha vida nisso. Claro que a Cultura também me ajudou a desenvolver o conhecimento crítico e criativo na questão das políticas públicas, da educação, etc. Eu também participei desse momento de diversificação e mudança do movimento estudantil. A gente chegou a dar nome pra coisa, era “refazendo o movimento estudantil” e queria essa maior aproximação com a cultura, com o esporte, com a ciência, etc.
E a coisa do CUCA? Como surgiu?
O CUCA foi um dos movimentos mais inovadores da UNE contemporânea, reconhecido inclusive com o prêmio da Ordem do Mérito Cultural que eu e a Tininha, que também foi coordenadora do CUCA, tivemos a honra de receber do presidente Lula e do ministro Gil. O CUCA é um resgate fundamental da história do movimento cultural da UNE, se você estudar a importância da cultura para os estudantes na época do CPC (Centro Popular de Cultura) na década de 60, você conclui que não existe UNE se não tiver cultura no meio. Por isso criamos as Bienais, começando em 1999, e pensamos numa forma de multiplicar essas experiências por todo país. Na minha época, o CUCA era muito estudantil, foi quando inclusive iniciamos a relação com o projeto Pontos de Cultura, do governo federal. Penso que hoje demos um passo adiante, o CUCA está procurando estabelecer uma relação entre a universidade e os movimentos da cultura popular. Atualmente existem, acho que 17 Cucas espalhados por todo país, em estados como Mato Grosso, Amazonas, Paraíba, ou seja, esse projeto se transformou, um pouco, em um projeto de remapeamento do Brasil a partir da sua cultura.
Que intercâmbios têm a opção artística e a opção marxista?
Veja bem, intercâmbios existem em muitos momentos e isso é extremamente bacana mas, eu penso que a arte não necessariamente tem que ter um viés marxista. Existem dois elementos que, na minha opinião, são intrínsecos à opção artística e deveriam ser, necessariamente, a opção marxista: a criatividade e a liberdade. É um simplismo marxistas acharem que toda arte tem que ser engajada. Pra pegar um exemplo na arte popular brasileira, a bossa-nova tem uma origem pequeno-burguesa, mas é linda, ou alguém em sã consciência vai falar que Vinicius de Moraes é ruim?
Qual a importância e os caminhos para a cultura num país como o Brasil, fortemente identificado por uma cultura singular, rica, diversa?
Cara, o Brasil é um país que é síntese das sínteses, é um reflexo desse momento que a humanidade vive, de conquistas, avanços civilizatórios. Minha compreensão sobre cultura é a seguinte, já que você perguntou: entendo o Brasil de forma análoga à de um grande vitral, onde existem diversas formas, cores. Se você olhar de perto, verá os detalhes de cada pedaço de vidro, são todos diferentes, cada um com sua cor específica. No entanto, se você olhar de longe, todas aquelas pequenas partes formam uma coisa só. Portanto, entendo que não existe dicotomia entre diversidade e unidade, devemos encarar esses dois elementos de forma dialética.
Cultura e educação – tudo a ver?
Antes de mais nada, é importante entender a educação como um processo cultural. Para além disso, é importante termos medidas concretas que reconciliem as duas esferas. No último período, o Brasil vem tomando iniciativas importantes, que devem ser ampliadas, como o ensino da cultura afro-brasileira e do ensino de música nas escolas. As escolas também devem se transformar em um espaço das diversas juventudes, para produção e fruição cultural. Cada escola deveria ser um Ponto de Cultura, deveria ter um programa Segundo Tempo da Cultura, é preciso ter essa compreensão para nortear ações entre essas duas áreas.
Cultura e comunicação – hoje o cidadão tem possibilidades democráticas de se expressar inimagináveis há pouco tempo atrás. Como isso impacta a arte e a cultura?
Esses dias, conversando com a minha futura esposa, a Luisa, ela me aplicou em um texto do Manuel Castells. Ele fala muito de algo sobre o qual eu venho refletindo há algum tempo. Penso que a revolução tecnológica das comunicações, da informação, do conhecimento ou tudo isso junto, está ajudando imensamente no processo de democratização. Um dos paradigmas centrais do marxismo se refere à detenção dos meios de produção. A transformação nas comunicações promoveu uma certa revolução nisso, deu ao cidadão, novamente, a possibilidade da narrativa. Os meios estão abertos e a liberdade de criação está a cada dia mais pulsante. Nesse texto, o Castells fala que usuários e criadores de conteúdo podem se tornar a mesma coisa, tamanha é a amplificação das possibilidades de interação trazidas pelas tecnologias. Desse jeito, o cara pode se narrar a si mesmo, não precisa ser refém das grandes mídias. Ele mesmo vai produzir o seu próprio vídeo no youtube, escrever um blog, enfim, alcançar a sua autonomia.
Banda larga seria a maior realização estrutural na cultura de um futuro governo Dilma?
Uma das. Atualmente, estou fazendo a campanha de um parceiro de longa data para deputado federal, o Gustavo Petta, e contribuí para a elaboração do seu programa de cultura. Penso que Dilma deveria assumir quatro compromissos na área da cultura. O primeiro seria a reconciliação entre cultura e educação. O segundo é fazer com que o programa mais inovador do Ministério da Cultura se torne lei, o programa dos Pontos de Cultura. Em terceiro lugar, deveremos dar uma atenção especial às linguagens de teatro de grupo, música independente, intervenção ambiental todos deveriam ter mais recursos e políticas para a sua produção e circulação. Por fim, é pensar a parada da comunicação, com um plano nacional de banda larga, o incentivo às mídias alternativas e a valorização de um sistema público de comunicação.
Tiago, onde você imagina estarmos os brasileiros daqui a dez anos, e você pessoalmente?
Sinceramente, sou otimista. Acredito que estamos num momento de início da construção do socialismo brasileiro, entendendo o socialismo de uma maneira mais larga. Estamos no momento da conquista de avanço sociais, do crescimento econômico e da possibilidade de um desenvolvimento sustentável, um salto civilizacional. Penso que, daqui a dez anos teremos uma sólida estrutura funcionando em todas as áreas, na cultura, na educação, no esporte, na saúde. Para além disso, acho que viveremos um momento de construção de um novo homem, mais humano, preocupado com as questões ambientais, mais livre e tolerante. Quanto a mim, irei me casar no próximo ano. Na boa, sou meio careta, quero casar, ter filhos, espero que minha produtora esteja em um momento bacana, e que meu amigos, aqueles que já fiz e os que ainda farei, estejam todos próximos.
Rapaz, excelente o papo. Pessoal, o cara não é fraco não. O email dele é tiagoalves@contraregras.com.br se quiserem continuar a conversa. Obrigado Tiago, aprendi nesta entrevista. Sorte a você, Luíza, Gustavo Petta seu candidato a federal, e a nós todos. Abração.
Fonte: http://www.waltersorrentino.com.br/2010/07/21/o-brasil-e-a-sintese-das-sinteses/#more-2832
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