quinta-feira, 22 de março de 2012

Nunca considere vencida uma eleição antes de terminar




Por mais que muitos políticos defendam a tese, em seu sentimento mais íntimo, a ignoram.
Esta é uma lição política ensinada pelo historiador e estadista italiano Francesco Guicciardini (1483-1540), que não cessa nunca de se confirmar na prática. Por mais que na retórica os políticos subscrevam essa verdade, muitos, no seu sentimento mais íntimo, a ignoram.

A fantasia da vitória fácil atinge principalmente aqueles governantes que buscam a reeleição.
Na lista dos inimigos da vitória, esse sentimento é um dos que ocupa as mais altas posições. É a fantasia da vitória fácil, que atinge principalmente aqueles governantes que buscam a reeleição. Esse é um sentimento que provém de variadas origens:
  • Arrogância e vaidade

  • Desprezo pelos adversários


  • Bom desempenho no governo


  • Boa posição na política (liderança nas pesquisas, por exemplo)


  • Uma história de vitórias


  • Farto suprimento de fundos, entre outras razões.

  • O fato é que, todas estas razões podem ser verdadeiras, e até mesmo vir, ao final, assegurar uma vitória fácil. Mas, atenção, isto só pode ser sabido ao final, depois de contados os votos. Até lá, melhor considerar que é uma disputa difícil.
    Por mais simples que a eleição seja,por mais certa que a vitória pareça, uma eleição está sujeita a tantos acidentes, incidentes e eventos que, somente uma pessoa leviana poderia considerá-la vencida antes dela terminar.
    A vitória é sempre uma combinação do nosso acerto com os erros dos adversários. Se os termos dessa equação forem invertidos, já se encontra uma razão de derrota para uma eleição que, em princípio, estaria ganha. A combinação de acertos dos adversários com os erros que nós cometemos, resulta na vitória deles e na nossa derrota, ainda que a eleição parecesse fácil.
    Há um fato que é esquecido nestes casos : entre a pretensão e a realidade encontra-se o voto do eleitor, a sua vontade. O perigo embutido na persuasão de que a eleição é fácil, e está ganha por antecipação, reside nos seguintes fatores entre outros:

    1. Suposições em demasia


    Quem concebe a eleição como ganha por antecipação, apóia-se mais em suposições do que em fatos.
    Quem concebe a eleição como ganha por antecipação, ou, numa variante mais amena, quem se considera franco favorito por larga margem, apóia-se mais em suposições do que em fatos. Comete então um grave erro, de conseqüências ainda mais graves.
    Mesmo admitindo-se seu favoritismo inicial, a convicção da vitória fácil supõe, entre outros elementos: que o adversário não possa crescer com a campanha; que o sentimento inicial do eleitor dure até o dia da eleição; que os fatos negativos contra ele, e os ataques dos adversários não tenham efeito sobre sua imagem e candidatura, etc.
    Estes são exemplos de algumas suposições muito perigosas - porque inevitavelmente duvidosas -para que nela se sustente uma campanha

    2. Julgamento comprometido

    As avaliações, conclusões e julgamentos de quem assim pensa ficam comprometidas com apenas um cenário: o da vitória. Assim, o risco de ler erradamente os sinais que a campanha emite, torna-se muito elevado. Sinais positivos são percebidos como confirmação da vitória e dos acertos, enquanto os sinais negativos tendem a ser vistos como sem maior importância, quando não estão errados. O apêgo à certeza da vitória destorce de tal forma o julgamento, que é preciso muitos e importantes fatos negativos em sucessão ocorrer, para "cair a ficha".
    E aí, normalmente, já é tarde demais. Não há mais tempo para reverter uma dinâmica de crescimento do adversário, e reconstituir a situação inicial de campanha, porque ela foi desgastada, corroída, pelos fatos.

    3. Despreparo frente a imprevistos

    Trabalhar apenas com o cenário da vitória fácil, deixa o candidato despreparado para enfrentar imprevistos. Em primeiro lugar ele tarda a dar importância ao imprevisto; em segundo lugar, ele o subestima; em terceiro lugar, não tendo desenvolvido planos de contingência para os maus momentos, tende a reagir de maneira inadequada e infeliz; em quarta lugar, a imagem de imbatível, de vitorioso antecipado é seriamente comprometida; em quinto lugar, a equipe de campanha entra em crise, gastando tempo precioso para se por novamente em condições.

    4. Desinteresse e subestimação pelos sentimentos do eleitor


    O vencedor por antecipação sempre nega que exista um desinteresse do eleitor.
    Quem se considera vencedor por antecipação, considera também, de maneira implícita, que se encontra perfeitamente ajustado politicamente com o eleitor. Ele tende a receber e a entender o seu favoritismo como uma "entrega" do eleitor, como uma decisão que o eleitor já tomou. O trabalho de investigar em detalhe os sentimentos do eleitor parece, para ele, uma perda de tempo, um gasto que é desnecessário. A temática de campanha passa pois a ser definida pelo que ele acha que deve falar, e não pelo que o eleitor quer ouvir.
    É o caso das obras realizadas, que o candidato à reeleição tende a "empurrar goela abaixo" do eleitor, assim como dos temas que para ele são mais importantes, mesmo que não sejam para o eleitor. Com esse comportamento, de início imperceptívelmente, mas, com o tempo, de maneira ostensiva, afasta-se de quem vai decidir sua sorte na eleição.

    5. Relaxamento geral da equipe

    O sentimento de vitória fácil, ainda que mantido em reserva no início, acaba por perfurar a camada do comando, e chega na equipe de trabalho. Seu impacto na equipe é obviamente desmobilizador.
    As coisas podem esperar para serem feitas, não se chega a constituir um mesmo ritmo de campanha para todos. Com isso, os erros são facilmente tolerados e perdoados, o trabalho duro não encontra quem o faça, e um relaxamento geral se espalha por todo o pessoal.
    Os membros da equipe estão sempre observando o candidato, e seus auxiliares mais próximos. Ao perceberem o clima de confiança, despreocupação, e otimismo, tendem a comportar-se da mesma forma. Desta maneira, a estrutura de campanha, que deve ser forjada para a "guerra", torna-se uma organização sem musculatura, sem enervação, e sem coração para lutar e vencer o combate.

    Fonte: Política

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